Cada
encontro que eu tinha com Sávio, embora não valesse a pena para algumas pessoas
por envolver grana como forma de pagamento para um ato sexual, fazia aumentar
um pouco aquele 1% de chance de ele querer algo mais além da cama. Sonhador,
né? Talvez eu esteja sendo confiante demais nisso, mas o que custa acreditar
que um dia ele se apaixonaria por mim e me desse todo aquele carinho do mundo.
“Pára, Higor!”
Esse
pensamento é tão absurdo. Eu não posso ficar criando expectativas com um homem
que ganha dinheiro fácil, como o Sávio. Pode ser o mais carinhoso, o mais
safado, o cara metido à gostosão, mas ele só está se importando com o dinheiro
que vai cair na palma da mão, quando terminar de fazer o serviço e colocar as
roupas de volta no corpo.
Eu olhava
para ele, deitado do meu lado, dormindo que nem um anjo e em minha cabeça, os
pensamentos dizendo pra eu parar de me iludir. Em poucas horas, ele vai acordar
e sair por aquela porta e eu, vou ficar novamente sozinho. Sozinho até um outro
dia quando ele chegar e dormir de novo em minha cama. Às vezes, penso que estou
me sentindo usado, mas tem dias que eu sinto saudade de estar junto dele. Talvez a minha própria companhia me bastasse, sabe? Eu poderia reservar um tempinho e me aliviar um pouco pra relaxar, sem precisar que um cara me dê uma mãozinha. Gozar faz parte da vida também!
Nailton
toma cerveja para tentar tirar Heitor da sua cabeça. Ainda no clube em plena
madrugada, o rapaz não consegue esquecer as palavras do seu ficante. Por mais
sinceras que fossem aqueles dizeres, ele acreditava em algo no futuro próximo:
uma possibilidade de ser feliz ao lado de Heitor, mesmo que tivesse que
enfrentar alguns obstáculos pelo caminho, como a filha do próprio que por mais
criança que seja, um dia tinha que entender a escolha do pai e a ex mulher, que
talvez nem faça ideia que o ex marido tenha atração pelo sexo masculino.
Heitor
nunca se assumiria de verdade. Nunca admitiria que ele gosta de ficar com
homens. Pai zeloso, amoroso, homem de família, respeitável diante dos amigos,
discreto... Nailton sabia que as chances de ficar com Heitor eram mínimas.
Quando Heitor o convidava para a sua casa, não existia conversa. Poucas vezes,
os dois ainda batiam um papo e tal, mas na maioria,...
Depois,
ele voltava para casa, louco ainda com o gosto no paladar e feliz...
Desde a
discussão que tivera, Tiago e Rafael não estão se falando muito. Os dois deitam
na mesma cama e mal conseguem trocar palavras um com o outro. Rafael já se
sente arrependido por ter ido morar com Tiago, sem conhecê-lo suficientemente
melhor pra ter tomado tal atitude. Pode ter sido precipitação demais, mas o
fato é que Rafael é muito rápido. Ele toma atitudes sem pensar. Acreditando que
talvez seria feliz com Tiago, ele bateu o pé e falou pra sua mãe que queria
muito morar com o namorado em outra cidade. Tiago é ciumento, agressivo às
vezes, mas quando ele gosta, realmente se entrega. Se dedica. Rafael foi morar
com ele porque realmente sentiu vontade de somar com o namorado, de cuidá-lo.
Existia um sentimento naquele namoro de uma forma tão intensa que hoje, está
deixando de ser. Rafael estava conhecendo a atitude de Tiago e a forma como ele
o trata, depois do primeiro desentendimento, que apesar de ter sido um pouco
boba, foi explicada.
Tiago não
era o príncipe encantado dos sonhos de Rafael. Tudo não passa de um conto de
fadas.
Era quase
meio dia.
Pensando
com meus botões, estou diante de um capítulo de um livro que um amigo meu tinha
recomendado. Enquanto folheava a página, Garibaldi me olhava deitado. Ele sabia
no fundo que eu não me sentia completamente feliz. A solidão me vencia a cada
tempo. Garibaldi por mais que seja presente, era apenas um cão. Ele não
conversava comigo. Ele só ficava próximo de mim. Me entendia talvez. Mas como
não podia falar, apenas fazia gesto para que eu pudesse perceber que eu não
estava totalmente só. Amigo, protetor, confiável, Garibaldi tinha qualidades e
defeitos. Toda vez que chegava alguém em minha casa, ele ficava de guarda para
qualquer coisa que eu precisaria pedir em minha defesa. Tinha medo dos fógos de
artifícios, do vento forte que batia incessante na persiana, dos raios que
cortavam o céu escuro. Só não tinha medo de gente.
Ele era
audaz o suficiente para tomar conta do próprio espaço.
Heitor
estava na fila dos Correios, esperando sua vez de ser atendido quando Nailton o
encontra. Os dois se cumprimentam e de repente, Nailton o abraça, esquecendo-se
por um momento de que ele é super discreto.
-
Nailton,
o que pensa que está fazendo?
-
Desculpa!
Eu acho que não consegui me controlar.
Mas foi
tarde! A ex mulher de Heitor viu a cena e ficou séria demais. Ela decide se
aproximar dos dois e diz para Heitor, em claras palavras:
-
Eu
não sabia que você tinha amizade com gente desse tipo.
-
Desse
tipo como, minha senhora? - Pergunta Nailton, mudando de expressão.
-
Deixa
pra lá. - Diz ela, dando de ombros.
Nailton
se despede de Heitor e sai, deixando-o com a mulher que fica observando a sua
retirada.
-
Depois
quero conversar contigo sobre esta nova amizade.
-
Não
temos assunto nenhum pra conversar. - Ele rebate.
-
Eu
sou mãe da sua filha. Eu não vou permitir que ela fique próximo de pessoas
desse nível.
-
Eu
e o Nailton somos amigos e nos respeitamos muito. - Diz ele, sob os olhares das
pessoas e inclusive, dela.
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