Depois
de pedir mil desculpas para Sr. Otávio por telefone sobre sua ausência na
empresa, Gisele aproveitou que ficou em casa e resolveu botar o apartamento em
ordem um pouco, mas estava preocupada. Acreditava que fazendo aquela atividade
poderia se distrair um pouco e não deixar se envolver demais com a preocupação
com sua amiga.
O
telefone estava numa posição estratégica para ela pegar no caso de eventual
telefonema de notícias de Grace. O celular também estava consigo o tempo todo,
no caso se tocasse ela atendesse imediatamente. Mas sua preocupação era tanta e
ela começou a se sentir sozinha naquele apartamento. Sabia que todos estavam
mobilizados e ela não podia fazer nada no momento.
No
momento que ela estava tentando arrumar uns papeis na estante que estava dentro
de uns livros, os objetos caíram no tapete do chão. Gisele desceu do banquinho
imediatamente para catar os papéis que caíram e... foi inevitável:
Aquela
cena naquele dia quando dos primeiros momentos em que começara a trabalhar com
Daniel veio a sua mente.
“Ora,
isso não é hora de pensar nisso, numa hora tão difícil como essa”
Gisele
tentou afastar aquelas lembranças de seu pensamento. “você só pode estar louca,
Gisele!”
Gisele
catou os papéis no tapete, mas ela nem mesma percebera que suas mãos estavam
trêmulas e suadas a ponto de manchar os papéis com umas pontas de suor de seus
dedos. Realmente se sentira nervosa com aqueles pensamentos que teimava
invadi-la:
“Desculpa,
Gisele mas eu não consegui resistir”
“Você foi longe demais. Não devia ter feito isso.”
Por
mais que nunca aceitasse, algo em Daniel a chamava atenção, a provocava. Ela
sentia algo por ele, talvez por ele ter uma personalidade contrária a dela, ou
querer sei lá se impor mais.
Quando
ela se levantou com os papéis nas mãos já que devia por de volta na estante,
ela parou um pouco e veio novamente àquele momento em que ela estava diante de
Daniel naquela vez lá na empresa e:
“Espera
aí, Gisele! Sei que você gostou desse beijo. Por que não admite que também está
sentindo algo por mim?”
“O
quê? Como você pode ter coragem de falar uma coisa dessas? Eu não sinto nada
por você.”
“Não
é o que os seus olhos dizem Gisele. Sei que você gosta de mim só não tem
coragem de assumir isso.”
Era
uma petulância e tanto perguntar aquilo e justamente pra ela.
Gisele
fechou os olhos e seu rosto parecia brotar gotículas de suor ante os olhos
fechados com aquele pensamento.
“Como
posso pensar tal coisa” – Ela brigava com seus
pensamentos:
“Daniel, vá embora! Acabou o expediente e acho
melhor pararmos por aqui ou...”
“Ou vai dizer para o Sr. Otávio que eu a beijei a
força nesta sala.”
Não
queria aceitar que ele lhe atraia de verdade.
Será
que a despeito de toda a sua insistência e a repulsa de Gisele de abrir o seu
coração e dar espaço a mais alguém, ela estava gostando de Daniel?
Ela
perguntava a si mesma. Seus pensamentos eram de nojo de toda as lembranças
daqueles momentos ou aquilo tudo estava fazendo falta prá ela? Os gestos de
Daniel e sua ousadia com ela naqueles últimos dias.
Só
tinha uma maneira, o que lhe ocorreu de pensamento relâmpago de acabar com
aquilo e não passar por sobressaltos daquelas lembranças em seus pensamentos.
“Sim! Eu vou dizer sim, Daniel! Eu vou dizer que
você entrou por aquela porta e...”
“E o quê Gisele? - Diz Daniel, se aproximando de
novo.”
O
tormento continuava. Até que ela abriu os olhos, deu um sobressalto sacudindo
um pouco a cabeça e pensou friamente:
-
Só tem um jeito de acabar com isso. É demitindo aquele abusado!
Será
que ela vai fazer isso?
Mas
daí a ter a coragem de fazer isso com o rapaz, colocá-lo fora da empresa por
motivos escusos e não óbvios não era justo – pensava ela. E além de tudo ela já
começava a sentir que não conseguiria ficar longe dele nem mais um instante.
Mas como fazer
para esquecê-lo por aquele momento? Como
driblar essa situação que já estava chegando num ponto totalmente absurdo.
Foi
aí que a campainha da porta tocou.
Alda
e Emiliano estavam transtornados com o rumo que a história estava tomando
quanto ao desaparecimento de Grace, mas por enquanto não formaram queixa
oficial na polícia devido às 48 horas obrigatória que as autoridades impunham
depois que as pessoas desapareciam.
Mas
mesmo com a situação delicada que estavam passando ainda assim não paravam de
se digladiarem.
-
E agora? Que você pretende fazer depois que acabar tudo isso? - Perguntou Alda
na mesa de jantar diante do marido um tanto consternado.
-
Vamos esperar, Alda. Se até amanhã não aparecer nenhuma notícia vamos dar a
queixa na delegacia e tomar medidas mais...
-
Eu não to falando disso, Emiliano! - Interrompeu Alda irritada. - Eu confio nos
rapazes e nas meninas, principalmente na Gisele. Logo nossa filha vai entrar
por esta porta se Deus quiser.
-
Mas do que você está falando então?! O que é mais preocupante pra você do que o
sumiço de nossa filha?
-
Eu quero saber quando a nossa filha voltar pra casa se nossa situação vai ficar
a mesma.
-
Ora Alda - Emiliano deu um salto da mesa irritado e jogando o guardanapo pro
lado. - Que que há com você? Num momento como esse você vem falar de nossa
relação?
-
Claro, é toda a causa da confusão de nossa filha e você sabe disso. Você sabe
como são os acontecimentos aqui em casa entre a gente e tem deixado nossa filha
insegura. Isso tem que ter um fim.
Emiliano
se vira para Alda e se aproxima devagar de novo.
-
O que você quer dizer? Você quer acabar com tudo definitivamente é isso?
Alda
se levanta e olha para Emiliano pronto para dizer umas palavras para ele.
Emiliano
fica olhando para Alda com expectativa.
Quando
Gisele abre a porta seu coração dispara...
Mas
de ansiedade, pois era Zeca que estava chegando e esperava dele alguma novidade
já que ele e os outros estavam mobilizados por causa da procura por Grace.
-
Oi Zeca. Que legal você ter vindo. Eu estou tão ansiosa aqui por novidades e
ninguém ligou até agora. Entra. E aí?
Gisele
ficou tão afoita que nem fechou a porta e ficou entreaberta. Ela puxou o braço
de Zeca e o trouxe mais pro meio da sala.
-
E então? - Perguntou Gisele ansiosa.
Zeca
olhava nos olhos de Gisele e não veio trazer só as últimas novidades. Ele vinha
num propósito que já tinha há muito tempo e achava que aquele era o momento.
-
Eu, quer dizer, nós ficamos sabendo que Grace foi vista num ponto de táxi e
pegou um veículo para a rodoviária. Ela deve ter ido para muito longe.
-
Meu Deus! - Gisele se afligiu. - Como vou dizer isso para os pais dela?
-Sei
que isso aflige não só os pais dela, mas a você e a nós que a conhecemos e se
solidarizamos com as pessoas. Por isso que eu vim aqui Gisele. Eu sabia que
você estava precisando de alguém, de um amigo ao seu lado no mínimo.
Num
impulso, Gisele abraça Zeca e fala:
-
Obrigado amigo. Eu estava aqui atormentada.
Mas
só Gisele sabia do que estava falando.
-
Gisele olha – Zeca envolveu seus braços nas costas dela.
Gisele
ficou um pouco constrangida e tentou se desvencilhar dele.
-
Zeca a porta ta aberta. Deixa eu ir lá fechar!
-
Só um momento Gisele. Olha pra mim!
Daniel
já havia encontrado o endereço de Gisele e como era um prédio que não tinha
porteiro, de posse do número do apartamento ele decidiu subir até ao corredor e
ir ao encontro dela. Ia falar tudo para ela, tudo o que mais desejava falar e
ainda mais agora naqueles momentos em que ela estava fragilizada.
Por
um momento ficou pensando antes de subir as escadas o que ia falar com ela,
como conseguiu o endereço e seu motivo de estar ali. Mas decidiu subir as
escadas enquanto pensava no que ia dizer.
Gisele
se viu nos braços de Zeca e por um momento as lembranças do passado veio a sua
mente ferida.
-
Zeca por favor, não é hora disso. Porque isso agora?
-
Porque eu ainda gosto de você Gisele e eu não podia deixar passar esses
momentos sem te dizer isso ainda mais numa hora como essas. Você é uma pessoa
que se preocupa com as pessoas, que se abnega até de seu trabalho pela causa
que você ta abraçando. Eu é que não soube reconhecer a pessoa maravilhosa que
você é. Por favor, me perdoa! Me perdoa e vamos recomeçar tudo de novo.
-
Zeca, por favor, me larga. - Ao mesmo tempo ela queria subitamente que Zeca a
abraçasse ainda mais, pois tudo que ela queria era um abraço. Mas na falta de
Daniel o que ela já estava desejando já era o suficiente. Faz de contas que
estava nos braços de seu novo amor.
-
Zeca!!! - Gisele encostou sua cabeça no ombro de Zeca. Estava fragilizada e
carente e um tanto confusa naquele momento. Zeca, por sua vez entendendo que
ela estaria correspondendo segura o rosto dela e olha mais uma vez para ela
profundamente num misto de expectativa e esperança.
Daniel
já está no corredor do apartamento de Gisele e com o papel na mão e confere o
número e olha para a porta indicada. Por um momento, ele pensou vendo aquela
porta entreaberta que Gisele deveria estar com um de seus amigos já que todos
estavam mobilizados por Grace e seu apartamento virou praticamente um quartel
general de informações. Caminhou até a porta para bater.
Zeca
olha para Gisele desesperadamente e Gisele olha para Zeca confusa pelo momento,
mas carente. Por um momento pensa no rosto de Daniel e as mãos dele percorrendo
suas costas de novo como naquela vez lá no escritório em que a abraçou e a
beijou ousadamente.
E
Zeca aproxima os seus lábios no dela a abraçando ainda mais. Ela por um momento
se entrega para ele naquele momento de carência e pensa em Daniel e em seus
lábios quentes que era de Zeca. Se entrega aos beijos dele.
Daniel
viu que não tinha sentido bater na porta já que estava entreaberta e achou que
Gisele não ia ficar tão assustada já que os dois trabalham na mesma empresa. E
seria naquela noite que ele iria fazer cair a última fronteira do coração de
Gisele.
Mas
quando ele abriu a porta devagarzinho e olhou aquele casal no meio da sala
abraçados e aos beijos, mal ele pôde acreditar vendo Gisele com outro cara.
Seus
olhos se apertaram e seu coração disparou e suas mãos tremularam segurando a
maçaneta da porta entreaberta vendo aquela cena decepcionante.
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