Finalmente
cheguei em casa e estou com uma baita preguiça de desembrulhar essas coisas.
Casa nova, ambiente novo, móveis recém-chegados, paredes pintadas em tons
fluorescentes, persianas limpas, janelas abertas exibindo a paisagem tropical
da ilha, canto dos pássaros, e o meu carro estacionado com aquela velha prancha
de surfe que ainda nem trouxe pra dentro. Estou pensando em pegar uma onda mais
tarde, mas o meu objetivo agora é arrumar essa bagunça da viagem e tentar
organizar as coisas conforme o tempo permitir.
Horas
depois…
Batidas
na porta. Decido abrir.
-
Oi!
Tudo bem? - pergunta uma jovem de cabelos curtos, olhos claros e alta.
-
Oi!
Estou bem. Nos conhecemos?
-
Não.
Eu só passei pra avisar que seu cachorro acabou com minhas plantas.
-
Mas
perae... Eu não tenho cachorro.
A
expressão de Paula muda de repente.
-
Mas
de quem é aquele cachorro? - ela aponta para o cão que estava aparentemente
cansado e deitado perto do carro.
Surpreso
vou checar a situação de frente. Observo o animal e percebo que ele não é bravo
e permite que eu acaricie seus pelos.
A mulher
interrompe aquela cena.
-
Tem
certeza que não é seu?
-
Sim,
mas acho que vou ficar com ele. Parece que precisa de uma companhia.
-
Eu
não me importo desde que fique longe do meu quintal.
-
Pode
deixar! Daqui ele não sai.
Assim que
pus ração e água pro Garibaldi, deitei-me numa rede de frente pra praia e
peguei no sono. A brisa tocando meu rosto e aquelas horas se passando. Fui
acordado por Garibaldi que lambia minhas mãos. Eu vi o relógio e já era quase
seis da tarde e nem as coisas não estavam ajeitadas ainda. Eu me levantei da
rede e debruçando sobre a pilastra da varanda, fechei os olhos e apenas deixei
a brisa me tocar. Quando abri os olhos, respirei e olhei para Garibaldi que
ficava me fitando. Eu simplesmente me aproximei dele e o abracei, sentindo seus
pelos. Garibaldi gostava de estar naquela casa e eu senti que precisava de uma
companhia.
Não havia
me apresentado antes, mas me chamo Higor. Eu sou o novo morador de uma cidade
pequena chamada Costa do Sol e apesar da minha casa estar próxima do mar, eu
escolhi tal localidade pra minha prática de surfe. Não me acho o Medina, mas
gosto de sentir o vento no rosto, estar em contato com a água e passar horas em
cima de uma prancha. E agora Garibaldi vai ter que se acostumar a minha rotina
de vida.
-
Você
não faz mais parte da minha vida. Acabou!!!
Não
entendo porque certas lembranças ainda não me saem da mente. Eu sempre quis esquecer,
mas nunca consegui. São como flashes. Eu observo as fotos dele e lágrimas caem.
E na varanda, pensativo, falo pra mim mesmo que preciso superar aquilo. Será
importante pra mim e pros próximos caminhos que eu seguir adiante. Quando dou
por conta de que a realidade volta, vejo Garibaldi mastigando as fotografias.
Se aquilo for bom pra mim acho que meu cão fez a coisa certa. Me lamentar pra
quê? Quero viver a vida sem a presença
dele.
Garibaldi
dorme enquanto eu estudo um pouco. Tento resolver alguns problemas matemáticos
de uma apostila virtual estampado em meu notebook de um curso online de
vestibular. Pretendo ser um futuro administrador e tenho que estar com meu
currículo sempre atualizado, aliás conhecimento é algo que não deixo pra trás
nunca. Mesmo que o surfe não combina muito com administração, eu gosto de
praticar os dois. Surfe é bom, prazeroso, é lazer e administração é futuro,
trabalho, sustento. Algum dia eu posso combinar essa função com esse esporte e
quem sabe criar meu negócio próprio, mas como tenho muito tempo pra pensar e
batalhar por isso, quero dar meus passos devagarzinho. Até prefiro manter minha mente ocupada nisso, do que ficar olhando nudes na internet. Fico perplexo quando recebo notificações de caras desconhecidos no site que visito às vezes, vendendo packs de conteúdos a preço de banana (risos). Como se algumas bananas estivessem em bom estado e num precinho que valha a pena.
Horas
depois…
O alerta
do microondas me desperta de um pensamento. Eu abro a porta e retiro a minha
lasanha de carne que estava aparentemente deliciosa e o cheiro invadia minha
cozinha. Eu pus no prato e com uma faca, fatiei um pedaço. Quando eu me
preparava pra comer, o celular toca. Acho que a lasanha vai ter que esperar.
-
Alô!
Oi! Como você está?
Recebi a
ligação de uma amiga minha que estava preocupada comigo. Ela foi minha
incentivadora, minha parceira e me ajudou bastante. Conversamos por algumas
horas e enquanto falávamos, eu não deixei de saciar a fome.
“Vai
uma lasanha ae?”
*Disponível na Amazon e Clube de Autores. Sua degustação também está na plataforma gratuita do Wattpad.
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